Estou aqui, em frente ao computador, a escrever na véspera da minha primeira ecografia para saber quando farei nova transferência. Senti necessidade de ler todo o meu percurso até ao dia de hoje e sabem que foi bom ver o quanto cresci emocionalmente durante todo este período. Comecei com este cantinho como um espaço de desabafos, mas agora tornou-se algo um pouco maior para mim. Tem sido o meu diário desta jornada, e que me ajuda a manter os pés bem assentes na terra. A sonhar, porque tudo é possível, mas a relembrar que há coisas menos boas que podem acontecer, mas, que eu já estou preparada para elas. Que caminho longo e desgastante já temos para trás e sei que há pessoas que tiveram um caminho ainda mais longo que este e que nunca perderam as esperanças e acabaram por conseguir alcançar o seu objetivo. Tenho uma esperança renovada neste novo processo, mas também tenho mais medos, porque agora vamos ter de descongelar um embrião, e a possibilidade de eles deixarem de ser viáveis para uma transferência é real. Quero acreditar que a nutrição que temos feito que ajudou a criar embriões mais fortes e que este será o embrião. O embrião que vamos conseguir vir a dar colo daqui a mais ou menos 9 meses.
(31/01/2025)
Hoje foi a segunda ecografia de acompanhamento e, mais uma vez, algo novo apareceu. Tenho o endométrio fino, ou seja neste momento o meu endométrio não está em condições para receber um embrião, que depois seja viável. Porque tem de ser sempre assim? Porque tem de aparecer sempre um problema que nem sequer pensavamos que iria acontecer. É uma sensação de impotência, de dúvida, parece que é tudo tabu, e que uma pessoa nem sabe bem o que está acontecer, parece que a cada passo que damos um novo problema aparece. O pior de tudo, quando recebo as notícias fico sem reação, então nem sequer consigo fazer perguntas, o que seja, e ainda mais frustrada fico, porque agora estou cheia de dúvidas e não tenho como as esclarecer. Vou para a internet investigar, mas são tantas as possibilidades que nem sei para onde me virar. Sinto-me completamente desnorteada neste momento, sabia que as coisas podiam não correr bem, mas estava a contar que fosse no momento do descongelar do embrião, não na casinha dele. É aquela sensação que parece que tudo nos indica que não fui feita para isto, o meu corpo está a falhar-me constantemente, sinto que este sonho é cada vez mais impossível. O tempo passa, mais coisas acontecem e as probabilidades vão diminuindo também. Sinto que preciso de ajuda, mas não sei ao que recorrer, eu sei que não posso stressar, sei que isso também prejudica todo este processo, mas a cada batalha perdida sinto-me mentalmente mais fraca, cada derrota é pior que a anterior. Amanhã nascerá uma nova oportunidade, mas hoje quero só descarregar esta frustração, para tentar ganhar forças para os próximos passos.
(03/02/2025)
E hoje terminou esta batalha, o endométrio reagiu, estava num valor já aceitável para acolher um embrião, no entanto, numa transferência anterior, sem ajudas e com a tal endometrite (uma inflamação no endómetrio que pode causar problemas a nível da nutrição do mesmo e consequentemente do embrião) estava com um valor melhor, pelo que é de estranhar esta alteração e talvez seja preciso reavaliar os próximos passos. Por isso, transferência cancelada.
O ciclo da minha maior esperança terminou assim, sem conseguir ver se o embrião se iria aguentar. Com isto tudo, sinto que a ansiedade pode estar também a complicar tudo isto, aquilo que eu não queria que acontecesse está a acontecer. Estou a começar a sofrer por antecipação, sinto que não posso ter esperança porque só me vou magoar mais no final e acho que essa ansiedade está a começar a mostrar se fisicamente também. A minha pressão arterial está mais instável e desde Sexta-feira que sinto um aperto no peito, uma espécie de dor que está presa e que não consigo libertar, por muito que chore, por muito que leia, por muito que jogue, estou desgastada. Não quero, nem vou desistir, mas sinto-me perdida, preciso de coisas que me ajudem a relaxar, que me tirem este peso que estou a sentir e que sou eu que o estou a criar. A sensação de dúvida, de confusão talvez seja a pior parte, porque não sei o que fazer mais, faço tudo e ao fim parece que não faço nada.
Estes dias vi uma frase, de alguém que está a passar por uma situação parecida, com a qual me identifiquei um pouco. "Sinto saudades de quem eu era antes de todo este luto". Sim é verdade, que sinto falta daquela leveza que eu estava a conseguir, aquela sensação de temos tempo, as coisas acontecem quando tiverem de acontecer. A vida tinha outro sabor naquela altura, mas, ao mesmo tempo sinto que estou mais forte, mais desgastada, mas para ficarmos mais fortes temos de nos cansar primeiro. É assim com tudo na vida, nada cai do céu, é preciso batalhar para conquistar. Vou tentar lembrar-me daquela Andreia que via isto com mais leveza e que conseguia aproveitar melhor as entrelinhas, vou agarrar-me a ela, para agora conseguir uma versão ainda melhor, uma versão que irá ter o fruto do seu amor.
Até à próxima batalha,
ASilva
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